Monday, June 18, 2012

por Ana Rebelo

a-saca-rolhas




olho-de-corno
não entendo nada de futebol nem faço por entender. custa-me o raciocínio quase matemático que obriga a conhecer as regras do jogo para saber quantos pontos faltam e quantas vezes temos de jogar e ganhar e com que país menos o jogador que levou duas faltas e já não pode jogar (que canseira). mas dei-me conta da polémica em redor da prestação do CR no último jogo da Selecção com a Dinamarca. ao que parece, o grande e incomparável CR a quem tecem os maiores elogios enquanto dono da bola, não foi dono de coisa nenhuma. eu não vi o jogo mas ia vendo os posts no facebook rolando como cabeças, a pedir que o tirassem de campo, oh-meu-Deus, pensei, que terá feito o puto maravilha para tamanho desprezo colectivo? ocorreu-me de imediato a velha máxima 'depressa-se-passa-de-bestial-a-besta' (vice-versa já é mais raro), pois este episódio é claramente um caso de amor-ódio-inflamado, bem à moda dos muitos treinadores de bancada que temos por aí. independentemente da prestação do CR, a qual não tenho competência para avaliar a não ser a parte óbvia dos golos (já que estes só acontecem se a bola que gira entrar na baliza, aquela rede grande que existe em cada uma das extremidades do campo e de preferência, na contrária à nossa), senti-me indignada com o chorrilho de insultos dirigidos a um dos melhores jogadores do mundo (todos dizem que sim e eu acredito). se é verdade que dos ídolos só esperamos a perfeição, a intangibilidade, também é verdade que somos nós quem os desumaniza. e depois, tão depressa damos tudo como tiramos tudo.


orelhas-de-burro
às vezes sinto que não sou capaz de gerir tanta vida ao mesmo tempo e por isso, coloco-me o peso da responsabilidade. não consigo ir a todos os lados, estar com todas as pessoas, fazer todas as coisas que quero. sou imperfeita, embora a perfeição 'manienta' me persiga e também eu me já me escudei nos outros para justificar o meu fracasso. no fundo, é tentador não termos de arcar com as consequências das decisões que tomamos. e lembra-me novamente o CR (e irrita-me isso que eu até nem ligo nada ao futebol e nem acho nada do CR), que ao sentir-se pressionado se defendeu da pior forma, é certo, mas é tão fácil sermos juízes do outro quando só pensamos nos milhões que ele ganha. e toma lá novamente CR, afinal não és um Deus e sim um miúdo de 20-e-tal-anos que ganha milhões. eu também gostava de ganhar os millhões que o CR ganha, mas eu não nasci com o talento com que ele nasceu, tampouco existirão muitos que o tenham desenvolvido e trabalhado como ele. é certo que não houve um golo sequer, que o raio-do-garoto se escondeu nas costas de outro, mas e Portugal ganhou, não ganhou? não é isso que está em causa aqui? vêem, como eu não entendo nada de futebol?...


boca-de-sapo
outra coisa da qual me lembrei com esta azáfama toda do futebol (não eram as séries e as novelas que embruteciam?...), foi dos dez estádios novos que foram construídos em Portugal algures num tempo já tão longínquo quando estes estádios que nem sei bem onde ficam.dez estádios, dez, dez, dez (estou a embrutecer). lembro-me de um que era ali para os lados do Algarve, sei que o vi da janela do carro quando viajava, imponente e brilhante sob os raios de sol de fim de tarde. não faço ideia de qual destes dez, dez, dez era mas lembro-me também de me questionar acerca de onde viriam as pessoas, o público, já que parecia deixado ao acaso numa planície esquecida. nunca mais ouvi falar de nenhum destes estádios de futebol, dez, dez, dez. talvez se tenham transformado em pavilhões gimno-desportivos ou em locais preferenciais para os saraus das escolas dos arredores. é realmente fantástica a criatividade dos nossos dirigentes. e para o provar, teria sido estruturante para o país realizar estes fracassos sem nos fazer engolir sapos atrás de sapos, tentando que acreditemos que só assim podemos sair ilesos deste campeonato de meio-campo.


nariz-de-pau
ontem terminou a 8ª temporada de Anatomia de Grey. eu sempre gostei de séries de médicos, talvez por ter pavor de hospitais, muito pavor mesmo, e na televisão tudo me parecer tão bonitinho e competente e saneado. estava feliz por estar em casa, instalada no meu sofá favorito para ver o último episódio mas logo comecei a arrepender-me, porque além de ter sido assim qualquer coisa do género trágico-fatalista-surreal, ainda fiquei com o sabor amargo de não saber o que realmente aconteceu até à próxima temporada que deve ser só daqui a não-sei-quanto-tempo. que mania esta de finais interrompidos e sequelas infindáveis, ó-srs-produtores, ainda não perceberam que tudo tem que ter um fim ou correm o risco do McDreamy deixar de nos dar pica, a Meredith parecer uma sopeira e a Yang uma cabra sem coração? tudo o que tem um princípio sempre tem de ter um fim. é certo que podem surgir novos e inesperados capítulos após um grande lapso de tempo, não é só nas séries que as coisas bonitas acontecem não fossem elas inspiradas na realidade, mas isso é só porque ainda não era o fim. outras vezes as sequelas só servem para nos encher de esperanças vãs ou iludir-nos com a infinitude de um amor que não soubemos corresponder. mas para o bem ou para o mal há sempre uma verdade inequívoca que só se confirma através da libertação, só assim percebendo se é suposto ser ou não ser. the end ou to be continued?


mãos-de-tesoura
sou vaidosa o suficiente para me sujeitar às torturas da manicure. geralmente, gosto de usar as unhas pintadas de cores fortes, outras vezes peço por cores mais quentes e que me façam lembrar a leveza com que se vive debaixo do sol. do que eu gosto mesmo é de arranjar os pés, adoro pés bonitos e também adoro o creme e as massagens e a água e esta semana aproveitei para prepará-los para vestir o tom dourado do verão. é sempre um tempo que tiramos para nós e em que aproveito para por a leitura-cor-de-rosa em dia. mas desta vez estive à conversa com a menina-manicure e é maravilhoso as pessoas que se cruzam na nossa vida, vindas de sítios tão diferentes e com estórias tão parecidas com a nossa. ela tinha os olhos grandes, de quem encerra um coração e uma estória igualmente grande. foi com generosidade que recebi das suas palavras, como se me estivesse, sem saber, a transmitir uma mensagem importante. como se não fosse em vão estar a gastar tempo num prazer tão indolente. ela parecia ter as respostas todas, aquelas para as quais eu nem procurei ainda as perguntas ou então me distraio esperando encontrar assim, esbarrando nestes pequenos sinais, aquilo que o meu coração sabe desde sempre.


(intuição-de-coração)
diz-se que criatividade é não ter medo de falhar. entendo que todas as coisas mais (im)perfeitas que fazemos são aquelas que vêm de actos espontâneos, de um pré-vazio de não sabermos o que vai acontecer, de uma incerteza que não incomoda e sim nos faz sentir vivos. entendo que nem todos podemos ser artistas, jogadores, ídolos, escritores, porque a maioria de nós não consegue ultrapassar esse medo, essa vertigem do fracasso e do julgamento dos outros. a maioria de nós não consegue tantas vezes ser quem é apenas por receio de não ser quem os outros esperam. é uma cruzada, esta. mas à medida que o caminho se desenha, há uma compensação enorme na honestidade de nos mostrarmos assim, frágeis, débeis, com medo, pois só perante a verdade de quem somos conseguimos afiar os dentes e ter a coragem de viver como sempre sonhámos.








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